terça-feira, novembro 28

O preço da incompetência

A incompetência é um problema que afecta muita coisa. Por vezes impede-nos de conseguir mais, perturbando a eficiência suposta. Outras vezes chega mesmo a custar-nos caro. Às vezes a vítima da incompetência é o autor da incompetência, e a única solução é dizer que quem é burro pede a deus que o mate. Por vezes a incompetência é produto de terceiros, e nesse caso por muito que se chame filho da puta de nada nos serve e muito pouco consola.

O preço da incompetência hoje saldou-se em 289.88€. Não é mais, nem é menos. Não fora a incompetência e seriam 463€ ganhos. Ou sendo realistas e assumindo uma eficiência apenas média, 55€ ganhos. O preço de lidar com a incompetência máxima é ficar metafóricamente com a rabo a doer como se a selecção da NBA fosse integralmente constituída por paneleiros e me tivessem apanhado num beco escuro.

Doeu.

domingo, novembro 26

Eia bem, putas!

Acho que para o bom funcionamento e reputação deste blog, eu devia publicar um post escrito em estado de embriaguez.

Não que eu esteja assim muito embriagado - podia estar muito mais. Há litros e litros de potencial de embriaguez por explorar em mim neste preciso momento, mas como proof of concept já não está nada mal.

Então isto sou eu mais ou menos embriagado. E é assim. As putas não andam bem por aí mas faz de conta. O melhor que se arranja em matéria de putas são mesmo as teclas que não são capazes de ficar no mesmo lugar. Mas que grandes putas.

E esta coisa do processador de texto desta coisa também está um bocado diferente. E quando tentei fazer login para publicar um post embriagado esta coisa pôs-se com merdas de fazer upgrade para um beta qualquer. Aproveitar-se dos bêbados para vender coisas é mesmo muito mau. Deviam todos arder no inferno. E hão-de.

O estado bem-disposto de hoje é patrocinado por uma cena francesa da qual não me recordo o nome, mas que até é boa e é deste ano. Como tire-bouchon, mas sem o tire e com um bouchon diferente. Se estivesse sóbrio E não tivesse alzheimer concerteza lembrar-me-ia. Nas presentes circunstâncias, porém, temos pena.

Tenham um excelente fim de serão.

quinta-feira, novembro 23

"O que é que se passa de errado com o Universo" ou "Top 6 do odioso"

1 - Ventoinhas. Ventoinhas são aquilo que de mais diabólico existe no universo. Sacrificar criancinhas a Satanás depois de as sodomizar é quase tão diabólico quanto ventoinhas, mas ainda fica assim um tanto aquém.

2 - Ventoinhas. Ventoinhas são tão más que podiam consistir no elemento único de uma lista das 1000 piores coisas do universo, e nem mesmo assim se chegava perto de dizer quão más são.

3 - Microcontroladores. Quando um cliente compra um carro, se o carro resolver não pegar ou for abaixo assim do meio do nada o cliente pode ir à loja e reclamar com razão. Venderam-lhe um produto defeituoso, e o vendedor está bem fodido. Se o cliente comprar um computador, o computador pode crashar por um problema qualquer de software ou hardware, que já está tudo bem desde que não esteja sempre a acontecer - "desligue e volte a ligar". Ninguém vos vai devolver o dinheiro. Quando o cliente compra um microcontrolador, é como seguir o raciocínio do computador e ir um bocadinho mais além - essencialmente é como comprar um carro que só anda quando a temperatura se encontra entre 24ºC e 25ºC e que não pode ter o travão de mão puxado quando se liga ou não pega. Mas o comprador não sabe disso. Tudo o que o comprador sabe é que o folheto publicitário dizia "Sente-se ao volante do seu Tetramaxor TriTurbo 500, baixe o travão de mão e prepare-se para uma tarde de outono que nunca esquecerá". Se ele seguir as instruções à risca, o carro funcionará um número aceitável de vezes (mas nem sequer todas). Se o cliente quiser explorar as pontencialidades da sua nova aquisição - bom - temos pena.
"- Olhe, o meu carro não pega
- Seguiu as instruções à risca?
- Bem... não, mas nas instruções falava numa tarde de outono e estamos no verão, e eu gostava de lev...
- Pois, estamos ao corrente do problema do Verão. Alguns (alguns!) dos nossos clientes já nos informaram e estamos a fazer os possíveis para o resolver. Até lá tente o outono."
Caveat emptor. Ou em bom português - "Fode-te aí, porco". Microcontroladores são obra do demo.

4 - Electrónica analógica. "Sim" e "não" é que é. Imaginem se de cada vez que convidavam uma rapariga para sair tivessem que calcular o "nível de saída" dela para saber se iam a algum lado ou não. O lugar de coisas como "espelhos de corrente" é em jardins zoológicos, não em esquemas que me vêem parar às mãos. Puta que os pariu.

5 - Programação. Acho que o principal defeito da programação é a falta de feedback - o nosso código não ter consciência e um instinto de sobrevivência, para quando ele faz coisas estupidamente desnecessárias aprender com os erros. Lembram-se daquele puto de óculos da preparatória que estava sempre a corrigir o português de toda a gente? "Não é távamos, é estávamos", "Não é bué, é muito". Lembram-se do que lhe aconteceu?

6 -

domingo, novembro 12

O Estabelecimento Prisional de Sintra

Pois é. Eu também não sabia que existia um estabelecimento prisional de sintra. Não estamos a falar do Linhó, porque esse toda a gente conhece. Existe um outro estabelecimento prisional, que não fica concerteza a mais de 5km do do Linhó, só que enfiado mato adentro.

A Direcção Geral dos Serviços Prisionais diz-nos que «
Em execução da Lei de 20 de Julho de 1912 e com o fim de "recolher os vadios dos 16 aos 60 anos de idade e de tentar a sua regeneração pelo trabalho", foi criada a Colónia Penal de Sintra, hoje, Estabelecimento Prisional de Sintra.»

Situado na "Quinta do Bom Despacho", que quem vê de fora facilmente confunde com uma quinta de gente rica no coração da serra, esta extraordinária instituição alberga 729 reclusos. Pressupõe-se que o bom ar da serra os inebrie e encha de boas intenções e vontade de se reintegrarem. Se eu tivesse uma máquina fotográfica, ter-vos-ia trazido uma foto do único resultado visível de toda esta inebriação, mas como eu sou um pelintra nem sequer máquina fotográfica (ou cores) tenho no meu telemóvel, quanto mais uma máquina fotográfica a sério, daquelas que foram feitas mesmo para tirar fotografias a tempo inteiro. Nestas circunstâncias, terão que se contentar com a minha palavra:

Ao lado da Quinta do Bom Despacho, por entre placas de aviso de que estamos à beira dum estabelecimento prisional, existe um caminho de terra batida. Algures à beira desse caminho existe uma mina de água - fechada - de onde sai uma mangueira daquelas mangueiras de todos os dias, que passa por baixo da estrada de terra batida e vai para dentro da quinta. Na porta da mina de água existe uma placa na qual se pode ler

"Cuidado. Não mexer na mangueira. Podes partir as mãos ou as pernas." Assinado por um "Recluso #176".

É. Acidentes acontecem.

sexta-feira, novembro 10

Noite de São Martinho

Hoje é noite de São Martinho. Bom, será depois de passar o dia. Reza a tradição que se coma castanhas e beba jeropiga.

Eu na verdade não sabia que era noite de São Martinho - eu nunca sei quando são estas merdas. Sei o natal, sei o ano novo, e acho que prái dia 4 é noite de reis. Nunca percebi muito bem esta história de fazerem festas em datas específicas todos os anos - é como os aniversários, também nunca percebi muito bem o porquê. Aliás, também nunca percebi muito bem a necessidade das pessoas se cumprimentarem todos os dias com um aperto de mão ou dois beijinhos. "Olá, é muita fixe que não tenhas morrido de ontem para hoje e estejas aqui agora. Tive imensas saudades tuas nas últimas 16 horas!". Hã? Um "Olá" não basta? Somos todos bipolares e temos de fazer uma granda farra de cada vez que nos vemos?

Voltando às ocasiões anuais - no fundo os santos, os aniversários e todos esses eventos não são mais do que desculpas para se fazerem festas. Parece-me um bocado patético precisarem-se de desculpas para se fazerem festas. Lembra aquelas histórias do sofrimento cristão, em que um bom cristão nunca pode estar verdadeiramente feliz senão quando está a rezar ou a assistir à missa. Porque o prazer é pecado, e jesus morreu na cruz no meio de enorme sofrimento porque somos uns pecadores de merda e por isso temos que nos arrepender e viver a vida toda em miséria auto-infligida. Eu sei que o argumento é um bocadinho mais sofisticado do que isto, mas pode-se reduzir a estes traços gerais e neste momento teologia não é um tema que me apeteça abordar a fundo.

Tudo isto para dizer que as pessoas altamente tradicionais que me lembraram que hoje vai ser noite de são martinho vão muito provavelmente fazer aquilo que fazem em todos estes eventos - embriagarem-se. E eu vou embriagar-me com eles. Provavelmente mais do que eles, porque eles são uns franguinhos e bebem assim uns poucos copitos e já estão que não podem. E isto vai completamente de encontro ao meu argumento que festas anuais são só desculpas para fazer a mesma merda de sempre.

Mas hoje vai ser difrente! Hoje embriagamo-nos com jeropiga. O senhor seja louvado!

quinta-feira, novembro 9

Porquê porquê?

É uma obsessão tão humana querer explicar tudo. Tornarmo-nos poderosos descobrindo como é que se manipula os mecanismos de tudo. O mundo está nas mãos dos powergamers. Outrora foi de príncipes e sacerdotes, mas hoje é dos powergamers. O mundo consiste agora de uma infinidade de oportunidades a serem identificadas, exploradas e optimizadas. Optimização é a palavra. Fazer mais com menos. Tirar muito do pouco. Reduzir o que sai, aumentar o que entra. A menos que seja lixo. Não, até já com o lixo. Optimizamos no lixo. Optimizamos nos jogos. Optimizamos no desporto. Até há pessoas que optimizam o cagar. Não existe área ou coisa que esteja para além da optimização. Com o conhecimento suficiente (e internet é conhecimento) é sempre possível definir uma via que é a optimal. Não há o caminho da água, e o caminho do tigre e o caminho do dragão e do louva-a-deus como nas artes marciais de antigamente. Isso era na Idade das Trevas. Hoje há simplesmente O caminho. Porque todos os outros são sub-optimais e portanto errados.

É uma noção tão aberrante assim uma pessoa saber qual é o melhor caminho e escolher outro voluntariamente? Errar por opção é assim tão absurdo?

Quantas pessoas que vocês conhecem é que fumam? Quantas dessas pessoas é que vivem na selva para não saberem que fumar faz mal? Acham que elas fumam porque não sabiam? Porque as obrigaram? Porque tiveram pressão social para o fazerem? Nunca vos passou pela cabeça que elas se calhar fumassem porque lhes apetecia, sabendo de antemão que ao fazê-lo estavam a prejudicar a sua saúde?

Vocês acham que as pessoas que se suicidam estão com "as ideias nubladas"? Não estão a pensar como deve ser? Uma pessoa não pode querer fazer algo que não está certo só porque sim?

Vivemos na ditadura da razão. Tem sempre que haver uma razão. Se as coisas são como são, tem que existir um porquê. Eu não posso mijar do nono andar directamente para a rua só porque me apeteceu. Tem que haver uma razão para isso. Estou a tentar afirmar-me. Ou tenho uma desordem qualquer. Um fetiche. Os meus pais abusaram de mim. Não posso pura e simplesmente mijar porque a dada altura a sinapse joão disse à sinapse carlos "olha lá, e se mijássemos do nono andar para a rua?". A sinapse joão tem que ter um plano maquiavélico para dominar o mundo que começa por mijar dum nono andar. Não pode ter sido uma coisa ao acaso, não, deus nos livre!!!!

Porquê porquê? Porquê sempre porquê?

segunda-feira, novembro 6

Categorizações

Agora era uma daquelas alturas muita porreiras para isto ser um blog cheio de visitantes. Podia fazer uma sondagem esclarecedora. Já de algum tempo para cá que tenho deparado com umas noções muito estranhas sobre exactamente o que é que constitui "relações sexuais".


Aparentemente a opinião mais popular que por aí anda é que "relações sexuais" são só quando ocorre penetração vaginal. Tudo o resto é treta. E portanto uma menina de boas famílias que apanhe mais regularmente no cu do que apanha o metro ou que meta pilas na boca às duas e três de cada vez desde os seus doze aninhos (perdoem a vividez das imagens) pode para todos os efeitos ser considerada virgem. Ao passo que uma rapariga que nunca tenha visto uma pila até aos 25, arranje um namorado e vá para a cama com ele quase sem saber muito bem como aconteceu, se tiver feito as coisas do modo que deus nosso senhor intencionou, deixará de ser virgem. Sua porca!

Não vos parece uma classificação um bocadinho enviesada?

Deixem-me então submeter um exemplo à vossa consideração - suponham que têem uma namorada ou namorado. Imaginem que ele ou ela anda aos beijos com uma pessoa que conhece na discoteca. Vocês vão ficar chateados, não vão? Mas não ficam tão chateados como se ele ou ela tivesse tido "relações sexuais" com a outra pessoa, pois não? Agora suponham que a vossa namorada teve sexo anal com o gajo que conheceu na discoteca. Não são "relacões sexuais" - quando ela vos vier pedir desculpa, vocês não lhe vão mandar uma chapada, pois não? Afinal de contas, dar uns beijinhos... ir ao rabo... é tudo mais ou menos o mesmo. Não é nada tão sério quanto uma "relação sexual".


quinta-feira, novembro 2

A Arte do Procrastinador

Como se diz para se escrever sobre aquilo que se sabe, e não me ocorre outro tema de momento, aqui vai.

O que é necessário para se ser um procrastinador bem sucedido?

1 - Motivo
É a condição que define a procrastinação enquanto acto. Normalmente diz-se que se está a procrastinar este ou aquele motivo. Por exemplo, neste preciso momento estou a procrastinar uma ficha de partículas elementares, a leitura de um jornal e um teste de ELC. Como atesta o exemplo, pode haver mais que um motivo, embora a multiplicidade de motivos requeira um procrastinador que encare a sua actividade com alguma seriedade. Repare-se também que eu não menciono coisas como arrumar a secretária, porque coisas para as quais o indivíduo se está manifestamente a cagar não constituem motivos válidos. "Podia estar a fazer algo mais útil", sim, mas isso não é procrastinar.

2 - Vontade.
Vontade sim, e não falta dela. É uma noção bastante comum e errada que procrastinar consiste em não ter vontade de trabalhar. Se assim fosse, estar de diarreia seria uma arte tal como a procrastinação. O primeiro cagalhão da Suri Cruise é arte, estar de diarreia não. Procrastinar requer vontade e um genuíno gosto por fazê-lo.

3 - Uma justificação.
A pedra basilar da procrastinação não é a evasão mas sim a translacção temporal. Não se evita uma dada tarefa - realoca-se-lhe um novo horário. A justificação é a razão pela qual essa realocação não põe em causa a (eventual) realização da tarefa - i.e. o Motivo.
A justificação não tem que ser verdadeira, ou sequer credível - "1 hora para estudar para um exame é mais do que suficiente", ou "um trabalho de semestre faz-se aí numas 5 horitas no máximo" são excelentes justificações, que já tive aliás o prazer de usar mais do que uma vez. A única condição que valida ou não uma dada justificação é o à vontade com que o utilizador se sente ao empregá-la. Isto por sua vez depende do grau de vocação e treino do procrastinador, bem como das circunstâncias particulares - por exemplo, fazer a transição de "a véspera" (comunmente adoptado pelos iniciados) para "1 hora" é um processo moroso mas exequível mediante alguma prática, e que facilmente se adequa a um exame de gestão, mas que muito dificilmente se poderá aplicar a um exame de ELC do Loureiro por mais experiente e naturalmente prendado que seja o procrastinador.

3 - Um meio.
O meio é a parte mais eclética da arte da procrastinação, e é também a que lhe confere o estatuto de arte. É essencialmente através dele que se distingue o procrastinador ocasional do calejado. A procrastinação enquanto arte gira sobretudo à volta de dois conceitos fundamentais - duração e continuidade. Um procrastinador ocasional recorre frequentemente a expedientes duma simplicidade quase infantil - ir buscar um bolo ao bar mais próximo, falar da bola do sábado com o colega do lado, ver o mail - que não possuem duração nem continuidade. Qualquer um deles chega ao fim num espaço de tempo relativamente curto (duração), e nenhum deles pode ser repetido duma maneira natural sem que tenha decorrido pelo menos várias vezes o tempo que demorou a chegar ao fim, tal como também não permitem a transição para outro meio de procrastinação duma maneira lógica e natural.
O procrastinador calejado recorrerá a técnicas mais sofisticadas e subtilmente disfarçadas, frequentemente em conjunção umas com as outras - ir buscar um livro que ficou a fotocopiar para devolver à biblioteca (e que portanto apresenta uma pressão temporal justificativa muito importante para interromper seja o que for) à reprografia que fica longe do local de trabalho mas perto duma loja de discos onde tem uma reclamação a apresentar por causa dum disco defeituoso. A proximidade de ambos suscita a oportunidade lógica de fazer um a seguir ao outro (continuidade), sendo a marca do calejo o emprego de algo importante (o prazo da biblioteca) para iniciar uma cascata de oportunidades lógicas decorrentes da ida à reprografia. De notar que após a apresentação da reclamação é relativamente fácil passar para coisas ainda menos importantes e urgentes duma maneira natural, já que "quem já aqui esteve este tempo todo, também não morre se ficar mais um pouco".
Outro método muito popular entre procrastinadores conhecedores é a procrastinação estruturada, que consiste em arranjar um super-meio (uma tarefa muito mais importante e urgente que as outras) e "procrastiná-la" fazendo outras tarefas menos importantes mas úteis de qualquer forma. Por exemplo arrumar o quarto em vez de estudar para um exame. É utilizado por procrastinadores em momentos de fraqueza que querem ou colmatar eventuais sentimentos de culpa por procastinarem (afinal de contas ainda estão a ser úteis) ou então efectivamente trabalhar, mantendo a prática a que sempre se habituaram.
Tudo isto não quer dizer que o simples seja sempre a escolha errada. A simplicidade é sempre um trunfo quando é conseguida com elegância - a atestá-lo existe uma das ferramentas mais poderosas do procrastinador, que eu designo por varinha mágica do procrastinador - o cigarro. Qualquer procrastinador sério fuma - o tremendo poder de procrastinação de algo tão simples como fumar é tão avassalador que procrastinador algum é capaz de passar sem ele. Apesar de não ser a ferramenta mais poderosa em duração ou continuidade, a conjunção das duas origina no cigarro um potencial vastamente superior a qualquer outro intrumento de procrastinação conhecido. Não possui de modo algum o tremendo potencial de duração de uma campanha de Enemy Territory ou de ajudar a montar a mobília de alguém que acabou de se mudar ou sequer de escrever isto, ou a continuidade duma pausa para jantar (qualquer coisa é possível e lógica logo após um jantar, excepto trabalhar) ou de um jogo de cartas (à melhor de 3? Não tínhamos combinado à melhor de 5? Agora estou eu a perder, quero à melhor de 7, etc), mas supera qualquer um deles na capacidade de procrastinação sustentada.
Um cigarro cria continuidade por si só - seja o que for que se esteja a fazer basta pegar no maço e tê-lo na mão durante uns segundos para transmitir uma mensagem inquestionável de "vou fumar" a nós e a todos os que nos rodeiam. Não se pode admoestar ninguém por segurar um maço e no entanto fazê-lo é selar a legitimidade de fumar um pouco depois. Este efeito é amplificado se se tratar de tabaco de enrolar - durante o processo de enrolar há uma transição extremamente suave mas quase impossível de contrariar entre o não estar a procrastinar e o estar de facto a procrastinar. Se somarmos a isto que nos sítios certos fumar não é uma tarefa exclusiva, fumar torna-se algo que não pode ser impedido por nenhum apelo razoável - afinal aqui pode-se fumar e trabalhar. Claro que em bem tendo o cigarro aceso, o procrastinador usará do direito universal a considerar um cigarro como uma pausa, completando a transição.